terça-feira, 31 de março de 2020


annaC’uarentena|day 16
31 março 2020

A história de hoje avança com os testemunhos da tristeza da solidão, do alarme noticiado, também nos Lares de Idosos, originalmente recriando a casa daqueles que não poderiam estar sozinhos, mas no final assistiam ao início do verdadeiro estar só (ainda que acompanhado!) apesar da réstia esperança de retornar aquele abraço interrompido.
Relembro, os finais dos dias de um casal, próximo de meu grupo de conhecidos, que sempre havia vivido juntos até mesmo ao dia em que essa memória havia sido apagada a Maria. Ainda assim, António da Mariquinhas, seu marido, seu amigo, amante e sua maior parte que o casamento faria crescer, continuou vivendo junto a Maria, sob sonhos contados nos breves momentos de lucidez,
-dizia-lhe a ela!, pudessem de novo sonhar juntos e esquecer a solidão das visitas, à vez segundo um calendário bem concertado e planeado a cada fim-de-semana, de seus filhos, netos e agora até um bisneto. Na verdade, Maria e António vivem as semanas do mesmo modo, juntos e cada um para os dois, porque as semanas são feitas de momentos após momentos apenas sentidos por eles próprios, que os construíram sem qualquer interesse num composto enredo contado perante as visitas a cada final de semana!
Até que o derradeiro momento chega, a partida de Maria, não deixando adivinhar o momento que se seguia. António restou sem sequer Maria o reconhecer, então. Dois dias haviam passado, mesmo antes que o final da semana chegasse e também António se despedia da sua solidão. Partiu, sem qualquer sintoma de enfermidade, sem qualquer ato de desespero o invadisse. 
Somente a solidão, a solidão o fez partir!

Desenho 16_ A irmã Inês a chorar, por Sofia com 7 anos. A ideia do choro como manifestação de tristeza, infelicidade e solidão reconhecida por aqueles que nos sentimos próximos e com aqueles que mais sofrem por nos ver sofrer. Aqueles, que agora nos veem à distância de um qualquer eco ou app accionada, contudo evidenciando a mesma solidão.


segunda-feira, 30 de março de 2020


annaC’uarentena|day 15
30 março 2020

Uma linha simples pintada com pincel pode-nos levar à liberdade e à felicidade.
De Joan Miró, a expressão inata dos traços espiralados, instintivamente a cor atribuída sem valor representativo de qualquer objeto ou realidade, apenas o prazer da liberdade do movimento, o prazer de riscar num registo de criação da sua própria vontade e liberdade. No momento um encontro com a felicidade!
Como propósito das nossas vidas, a felicidade é buscada em todos os registos vitais que uma qualquer sociedade aspira. Não deixa de ser curiosa, porém, a sua falta de referência nos quase 300 artigos emanada Constituição da Républica Portuguesa que principia a nossa sociedade. Ou ainda, muito raramente escutada como objetivo e premissas nos discursos públicos que maximizam numa compensação relativa as expressões de qualidade de vida, dignidade de vida e melhores condições de vida seja lá isso o que for? Afinal qual o sentido da corrida à felicidade?  O que se busca nela?



Desenho 15_ Garatuja I por Caetana com 2 anos. A ideia do alcance de felicidade na expressão inata e num encontro sublime com a liberdade de riscar, sem ordem de cor e real no simples momento de prazer e criação. O pensamento do conceito de felicidade na falta da ordem e da presença do toque e de estar com outros.

domingo, 29 de março de 2020



annaC’uarentena|day 14
29março 2020

Mais uma hora, em casa!
Adiante-se o ponteiro das horas, e com ele o início do horário de Verão!
Lá fora, o rio ainda corre, as flores dão lugar aos frutos e na figueira os primeiros figos adivinham o mel açucarado de seus grânulos na boca. As abelhas saltitam de flor em flor no ciclo natural da vida para a continuidade de gerações e seus zumbidos contracenam com os estalidos da fogueira cá dentro no interior de casa, lugar de onde apenas se vislumbram estes acontecimentos.
Mais uma hora de luz, e um entardecer mais tardio na vontade de espreitar até mais tarde as silhuetas e sombras do pátio traseiro, numa vontade de agarrar o ar ameno de uma hora mais de energia. No recorte da serra, o limite com o céu na esperança de para além, a resposta encontrada e deste interior se poder espreitar. No prolongar do dia, a antecipação de uma consciência acrescida ocultando uma escuridão cada vez mais longínqua. Ainda é tempo de crescer não sendo ao acaso a existência de uma hora mais de luz. 
O tempo,esse não para, e agora ,agora é hora de apreciar o interior de cada um!

Desenho 14_ A serra, o rio e o pomar por Camila com 4 anos. A ideia de tudo à nossa volta existir podendo ser avistado, tocado, cheirado e até escutado. Esta clarividência palpável, ainda que lá fora, abençoada por uma hora que o relógio nos cedeu. Porque o tempo não para!


sábado, 28 de março de 2020




annaC’uarentena|day 13
28março 2020

Isolados em casa ou debaixo de uma copa de árvore, ou até, de uma arcada vencida pelo encerramento das portas das lojas, o vislumbre vai hoje para aqueles que em casa devem permanecer mesmo que sem casa se encontrem.
A exclusão e isolamento social há muito foi sentido ainda que o ruído de fundo fizesse adivinhar o seu colectivo na labuta tecnológica de um paraíso desenvolvido em franca expansão do conforto e comodidades. Estes, assaltados constantemente nos curtos momentos de felicidade imperceptíveis pela ausência de tempo para os notar.
Da hipótese anunciada de transformação, de um planeta azul num planeta cinzento, a ideia de procurar novos lugares de “casa”, aqui, ali fora no espaço intergaláctico, na esperança que o tempo cuide da limpeza deste planeta, aonde todos poderemos retornar.
Relembrando a missão de Wall.E, o pequeno robot deixado no cenário de calamidade, com a missão de limpar e empacotar todo o lixo que havia contaminado o planeta, mas que ainda assim conseguiu uma relação de proximidade com uma barata (para além dele o único ser que não havia sido destruído, ali!) ) e encontrar a beleza num sinal de vida; uma planta. Com este achado, desenvolve uma personalidade muito humana do gosto pelo belo e mais tarde no encontro com EVA, chegada de Axiom, a esperança atingida pelo sentido mais forte que a humanidade pode viver; o amor. O amor, é ao longo de todas as histórias a razão que nos empurra para a felicidade e continuidade da espécie humana.
Das histórias de amor, o toque que o beijo do príncipe Wall.E à princesa EVA faz acontecer a força e a esperança de continuarmos a nossa missão!

Desenho 13_ Wall.E por André com 4 anos. A ideia da missão isolada de cada um de nós na defesa e garantia de um humanidade (apesar de a mesma ter potenciado a sua calamidade), na imagem de um robot, que assume os sentidos e sentimentos da espécie Humana nomeadamente a de poder encontrar algo belo por entre os destroços. Cada missão sairá reforçada com a capacidade da partilha dessa beleza encontrada  



sexta-feira, 27 de março de 2020



annaC’uarentena|day 12
27março 2020

O sonho de ter super poderes, quem nunca o teve? Na crença de os representar, como se uma antecipação bem-aventurada anunciasse o sucesso de uma caçada do Homem pré-histórico, a evocação de poderes sobre humanos vem acompanhando a evolução da História, muito antes das histórias aos quadradinhos e do cinema ter transformado figuras, como o Homem-Aranha, em super-heróis. Aliás, se a curiosidade nos inquietar, constataremos as influências das culturas clássicas na transformação destas figuras da Marvel que protagonizam histórias de super aventura dedicadas a ato de interesse público e, suas proezas ficam marcadas na eliminação dos “vilões “do enredo.

Deste imaginário, recorde-se a pretendida “surhumanité” (super-humanidade) de Nietzche, citada em “Du superman au surhomme” de Umberto Eco, num desígnio ideal de encontrar uma qualquer proeza em prol do bem e da defesa de Todos neste momento de maior aflição que um qualquer “vilão” provocou. 
Apesar da ideia política inerente a este ensaio, conseguir-se-á nesta altura, uma abordagem ao sentimento e consciência do Bem Comum do contexto vivido, aliás de que trata a política senão de tal?!

  Desenho 12- O super-herói, por Jorge com 17 anos. A ideia da evocação de uma qualquer proeza que salve esta “super-humanidade”. E, porque existem super poderes que até agora se escondiam, por debaixo de uma certa forma de máscara, é tempo agora de as revelar!

quinta-feira, 26 de março de 2020



annaC’uarentena|day 11
26março 2020

Duas representações d’O mar, na percepção que quem o observa!
Nestes dois desenhos, a ideia de apreensão distinta do mesmo “objecto”, o mar. Porém, ambos veículos de uma carga de elementos visuais sentidos em ambientes distintos do seu imaginário mas de forma una no seu próprio significado: o Mar. 

Nas diversas maneiras de perceber Todas as coisas, a percepção e representação visual é um comportamento associado ao pensamento visual próprio apenas do Homem.
Tudo no Universo existe para ser visto, ouvido, cheirado, tocado nos sentidos que nos permitem perceber cada experiência imediata de todas as coisas. Mas, esta percepção pode ser enganadora, pois esta é dada por todas as experiências colaterais vividas, não só por quem as percebe e revela (nas suas representações) como por quem as apreende e contempla. Em muitos casos, é o próprio contemplador que se permite a uma multiplicidade de interpretações que poderá revelar também o seu momento vivido no momento da sua contemplação, coberta de individualidade. Acerca desta dualidade e o engano que esta visão pode acarretar, Bruno Munari atribui-lhe um certo toque de ilusionismo cedido pelos truques de óptica deste fenómeno de visão.

De Leonardo da Vinci, o mais importante dos sentidos; a visão, que apesar de carregar uma boa dose de ilusão, a visão é dos sentidos o menos enganador.

                         
Desenho 11_1|O mar, por Sofia com 7 anos. A ideia de perceção de um mar no seu interior como um habitáculo, poucas vezes vivido por cada um de nós. Esta interioridade, é o nosso grande desafio na contemplação deste momento vivido.


Desenho 11_2|O mar, por Íris com 6 anos. A ideia de tudo o que envolve o pensamento visual associado ao mar, uma vivência de momentos de lazer e convívio agora na sua falta, valorizados!


quarta-feira, 25 de março de 2020

annaC’uarentena|day 10
25março 2020

Ainda, acerca de arco de ontem. O arco-íris que aprendeu a falar!
No campo das representações gráficas, a atribuição de sentidos próprios dos seres humanos a objetos inanimados ou seres irracionais (personificação), avança com a intenção de interpretação da apresentação de cada objeto no mundo de todas as coisas. Esta magia, a da representação e de um certo pensamento visual fica então atribuída aqueles que maior habilidade tem para o fazer: o Homem e num modo muito mais genuíno enquanto, ainda criança.

Do pensamento visual a ideia refletida no significado da aparência na ordem de todas as coisas, referida nas teorias do Gestaltismo, na atribuição da psicologia a todas as coisas, e de seguida logo a obra de Rudolf Arnheim e com este, a ideia de uma psicologia visual associada à capacidade característica criadora que a nossa visão revela. Esta configuração serve acima de tudo para nos revelar acerca da natureza das coisas representadas não apenas pela aparência associada, mas nos sentimentos que indicam o momento experienciado por quem o representa.
Ainda, do pensamento visual, a percepção de todas as coisas e consequentemente a apreensão da “forma” das coisas e a consciência de modo precipitado da “vida” de cada uma delas. A imaginação não observa coisas, ela alcança coisas, alcança propósitos nas manifestações de um imaginário experienciado, no desejo de (re)criar ou transformar as coisas que nos rodeiam, nem que seja na tentativa de os tornar igual a nós próprios para assim melhor viver.  
Ver não é viver, viver é perceber!

Desenho 10- O arco-Íris que aprendeu a falar. Da ideia de necessidade de atribuir sentidos e sentimentos a todas as coisas que nos rodeiam para assim conseguir as apreender melhor e assumir uma maior consciência na compreensão de todo o Universo. A representação deste pensamento visual apenas o Homem é capaz.

 

terça-feira, 24 de março de 2020


annaC’uarentena|day 9
24março 2020

No final da tarde de ontem, o sinal para hoje!
 A dinâmica de um arco multicolorido, com vermelho por fora e violeta no interior: o arco da Iris com seu efeito deixado pelo rasto da mensagem divina de Iris ao atravessar os céus e das nuvens, o simbolismo divino, no arco-da-aliança aparecendo como símbolo de aliança entre Deus e todos os seres da Terra num comprometimento feito no momento em que a arca de Noé pousou, logo após o desaparecimento de quase todas as civilizações se terem inundado no episódio de um Dilúvio, de que “Tudo vai ficar bem”.

Na indefinição da delimitação de suas cores, a ideia proposta das sete (cores) de Newton (apesar de só ter avistado cinco e duas delas ficarem por conta da analogia das 7 notas musicais, conta-se!), remetendo para a mnemónica que lembra a sua sequência : Vermelho Lá vai Violeta ( laranja, amarelo, verde, azul e índigo) ou ainda, o estudo dos elementos visuais presentes nos círculos cromáticos por  classes  primárias ou  secundárias, dependendo se isoladas ou adicionadas. O vermelho e amarelo com o laranja no meio resultado da sua adição, o amarelo e azul com o verde, também ele no meio resultado da sua adição azul, e, o índigo e violeta misturando este último com o primeiro; o vermelho, permitem a expressão romântica ,em arte, dos arco-íris nas paisagens de William Turner, ou (da minha preferência!) do arco-íris de Kandinsky em Murnau com arco-íris, sob pinceladas a anunciar uma leve subjectividade de vê-lo, própria de quem é capaz de se abstrai das regras impostas.

E ainda, já no final, a ideia de leveza e mágica que a crença infantil desperta, o desejo de algures no final deste arco se abrir uma porta escapando à desesperança do mundo, contrariando a tristeza associada aos tempos de chuva e ansiando um lugar e/ou um tempo Over the Rainbow como se a Oz tivessem chegado!

 Desenho 9_ O arco-íris, por Pedro com  6 anos. A ideia de simbolismo associada a um desenho gráfico multicolorido e multicultural na esperança e união global de todos os estados, na indefinição das fronteiras como aliás é a delimitação das cores neste arco. O rasto de uma mensagem de esperança, como se Íris acabasse de atravessar nossos céus!




segunda-feira, 23 de março de 2020


annaC’uarentena|day 8
23março 2020

Hoje, um registo de pura vida!
A celebração de todos sinais de doçura e de cor, habitualmente sem valor por se ter instalado na presença comum de
todos.
Celebrando este ciclo de vida, pelas caducifólias que dão origem às flores e folhas e depois aos frutos registe-se a aspiração da salvação de um coletivo que se propõe a não abdicar da sua missão de colheita e de serviço comunitário.
No tom cerimonial deste momento, os rituais de culto e celebração que desde sempre organizaram planos de construções que a arquitetura dos povos reuniu em torno do seu habitáculo, e assim a imagem de Persépolis.
Desenvolvida por diferentes níveis num terraço onde a sua configuração nivelava o solo rochoso assegurada pelo aterro das depressões com enchimento de solo e rochas, Persépolis, dada a pouca conveniência de aí se chegar em virtude das suas condições geomorfológicas (antes ideal para defesa de um nação!), apenas era visitada na Primavera altura de comemoração e chegada de um novo ano!
Assim, ficou assumida, até aos dias de hoje onde as suas ruínas, nas imediações de Xiraz (província de Fars, Irão), continuam a servir de lugar e inspiração para a celebração de feitos e eventos.
Lá, restam ainda de pé: as portas (a conhecida porta inacabada e denominada por porta das nações, na entrada Ocidental, e as colunas de pedra (as cem, milimetricamente implantadas numa retícula de 10x10 sustentando o hipostilo no palácio)!  
Não sendo acaso por tal, a sua referência no registo gráfico da escritora Satrapi que ilustra o seu “crescer” na metáfora de Persépolis por entre as dificuldades de um povo (o seu) que procura manter os seus alicerces ideais e de sua salvação (dela própria, noutro espaço e noutro lugar) na possibilidade abertura de novos acessos ou portais.

Celebremos, então!

Desenho 8_ A árvore, por Martim com 7 anos. A ideia de celebração de todos sinais de doçura e de cor, habitualmente sem valor por se ter instalado na presença comum para todos. Um registo de puro de vida!


domingo, 22 de março de 2020


annaC’uarentena|day 7
22 março 2020

Erguendo-se, próximo às paredes avistam-se vãos de janela e portas de acesso ao exterior dos balcões das varandas, os acessos por escadarias que tentam mobilizar o nosso ânimo ainda que desprovidas de corrimãos antevendo o limiar infinito da nossa passada seguinte sob o conjunto de degraus sem um fim imprevisível.


Deste cenário, as imagens das gravuras de Piranesi criadas completamente no delírio de uma febre: as prisões imaginárias. Estas visões representam prisões fictícias onde figuram enormes túneis subterrâneos, escadarias e máquinas de grandes dimensões e destroços da labuta diária que por ali ficam no registo de uma água-forte, técnica de representação que permitiu acentuar um maior espírito de angústia evidenciada nas sombras e esbatidos. São estruturas labirínticas de dimensões épicas, mas aparentemente sem significado ou vazias de propósito. São atmosferas imaginativas como aquelas que agora vamos construindo.
Com o tempo, se constrói e reconstrói o sentido da “ordem” do espaço , ora casa, essa majestosa edificação, de uma atmosfera dotada de significado figurativo do nosso “porto de abrigo”, da nossa proteção mas também da nossa criação originalmente feita de gerações que os laços familiares foram fazendo nascer e que até há bem pouco víamos desaparecer. A “casa” é agora um sentimento, muito individual, retratado no passado como solução para o presente e sem planos para o futuro.



Desenho 7_ Interpretação da nova casa, por Iris com 6 anos. 
A ideia do novo conceito de casa , de lar não só como um espaço mas sim como um sentimento muito individual.

sábado, 21 de março de 2020




annaC’uarentena|day 6
21 março 2020

O prolongar do inverno na hora das boas vindas à primavera, este ano atrasou um dia e assim se manterá por alguns anos.
O Equinócio da primavera onde a “noite igual” (aequus nox) ao dia, é considerado um período sagrado. O alinhamento do Sol com o Equador representa espiritualmente o equilíbrio e a unicidade da nossa vida. Entre a luz e a sombra a consciência da primeira pelo avistar da  segunda. A passagem do exterior para o interior no sentimento da ausência da segunda na presença da primeira.
Com as horas do sol a avançar, o impulso natural é o de iniciar novos capítulos, uma nova fase que nos encoraje na continuidade e testemunhe a viragem de página.
A natureza mostra-nos pistas que nos vão indicando a sintonia das Coisas. Da sintonia nada de errado em querer criar novos Castelos no ar, mas agora entenda-se o prefácio deste novo capítulo. É tempo de (re)contruir os alicerces que sustentarão esses castelos, é tempo de se seguir a formiga no carreiro que a transporta ao seu abrigo. No canto do macho da cigarra, também as ninfas (jovens cigarras acabadas de sair dos ovos que a morte da sua progenitora anunciou), entram na terra e ficam lá até a época de reprodução. Elas alimentam-se da seiva retirada das raízes das plantas, enquanto aguardam o momento certo para cavarem túneis que as levem de volta à superfície. Até lá o inverno continuará aí.

 Desenho 6_A casa das formigas, por Inês com 3 anos. A ideia de sobrevivência da parábola da formiga e da cigarra, no trabalho árduo de armazenamento e preparação de uma estação difícil que se avizinha.




sexta-feira, 20 de março de 2020


annaC’uarentena|day 5
20 março 2020

Do som da chuva lá fora, hoje a ideia de continuidade da vida que a abelha em comunidade nos ensina e com ela o enredo de Uma abelha na chuva. O desejo de mudança de uma época silenciada ali retratada na ruína de diferentes gerações. Por um lado, a ruína do poder do comando de uma sociedade e por outro a ruína da proximidade que a relação de amor exige. Na verdade, a qualquer momento tudo pode “cair” determinando a ruína de um momento, mas testemunhando ao início de tantos outros. No mesmo espaço em tempos diferentes também a vida de uma abelha pode terminar a qualquer momento levada pela enxurrada da chuva, porém, também elas criaturas sociais, sucedem o papel das anteriores na construção da sua colmeia como se de um elogio à comunidade se tratasse.
Porque o universo continua, e o barco esse continuará a sua viagem.





Desenho _ Um barco no oceano por Íris com 6 anos. A ideia de uma longa viagem onde cada um de nós embarcou e que continuará entre tempestades e sol brilhando num destino ainda mais iluminado 

quinta-feira, 19 de março de 2020


annaC’uarentena|day 4
19 março 2020

Do efeito borboleta (de Evan Treborn em The butterfly Effect), a ideia dos frequentes apagões sofridos em momentos de stress na tentativa de abandonar as memórias que inconscientemente guardava de uma infância em sua vida. Na tentativa de as esquecer a necessidade, porém, de uma regressão às origens, aos princípios fundamentais e essenciais da memória que temos enquanto seres deste universo. Nesta hipótese que o nosso cérebro permite, procura-se constantemente as razões e fundamentos de tudo o que nos envolve, de todas as coisas, numa tentativa desenfreada de alterar o rumo das mesmas. Todos os acontecimentos se assumem, assim, como consequências de todas elas dando origem a tantas outras, muitas ainda imprevisíveis. (no bendito futuro desconhecido!).
Seguindo esta interpretação o efeito de borboleta é em ciência, uma expressão utilizada na teoria do caos para fazer referência a uma das características mais marcantes nos sistemas caóticos: as sensibilidades das condições iniciais para previsão dos acontecimentos finais, a ideia culturalmente passada de que: o bater de asas de uma simples borboleta na India poderá provocar uma tempestade de neve em Nova Iorque!
Acreditando nesta teoria, o curso natural dos sistemas naturais em nosso redor nada tem a ver com o acaso e o desfecho do que a seguir virá assumirá desfechos completamente díspares e imprevisíveis.   
Portanto desenganem-se os mais céticos, pois tudo que aí se encontra de nós dependerá, ainda num futuro muito incerto, com a determinação do resultado muito diferente daquele que até agora imperava nas equações propostas.
Aí estamos nós, envoltos de um sentimento de lar, onde o espaço da casa não importa apenas a presença em família, nos mais complexos sentidos que esta veio a tomar, interessa!
Apenas o amor por todas estas conexões e ligações irá fazer vencer e no final tudo irá ficar bem. Nunca esquecendo que as asas da borboleta continuarão a bater e o amanhã de cada um de nós depende.


 Desenho 4_ Um coração ou duas asas de borboleta a baterem ao sol, a ideia de esperança que a força do amor ganhará no afastamento, físico de muitos dos nossos familiares e amigos mas no sentimento de cuidar e proteger todos os que amamos.(Leonor,5 anos)




quarta-feira, 18 de março de 2020



annaC’uarentena|day 3
18 março 2020

Do presente alternativo, aqui estamos nós refletidos num híbrido entre a ficção e a realidade em completo desconforto em relação ao mundo moderno.
Neste espelho, negro (Black Mirror), refletimo-nos nos contextos até agora quotidianos; escravos do consumo, espetadores comodistas de concertos a qualquer instante disponíveis em modo “ON”, dependentes apáticos de comentários e stylings virtuais preparados para conceitos de reunião sucessivas em débito desenfreado de quem domina o poder, ansiosos pela chegada do ponteiro ditar o momento de encontro com a família no imaginário e ideal sentimento de conforto harmonioso esgotado pela falta de paciência que o ideal do amanhã assola.
A parábola do sentido de estar no mundo, ei-lo, o medo de que nossos olhos se tornarão ecrãs, ora dispensáveis, e visualizados por outros quaisquer. E, no momento de reportar as nossas memórias, criando o nosso próprio enredo sob dúvidas descobertas e visíveis, por cada um dos outros socialmente aceites, dispensando qualquer chavão, ponto final ou travessão.
Da hipótese do bloqueio de comentários, a viabilidade de remover a presença física e ao vivo das pessoas a cada minuto que a pressão e fúria ativam o nosso cérebro. A ausência, essa fica presente e notada num negativo à côr do universo que a silhueta permite recortar num vislumbre de apenas branco aparecer.
A corrida ao real prazer, ao emocionalmente satisfeito e ao felizes para sempre, agora ao alcance de um gadget capaz de fazer a cópia da sua personalidade e comandar cada minuto compatilizando-a com nossos níveis de agrado e desejo em modo “Enter”.
Perfeito ,perfeito,é quando fazemos chegar um “avatar” de alguém familiar falecido que a saudade fez desejar, à distância deste apresentar um histórico facebokiano , claro está não se incluindo a geração Boomer que ainda são do tempo onde apenas se contavam histórias de sucessivas crises, de sobrevivência e alguns feitos que reforçavam o orgulho e esperança perante a arrogância de quem os escutava sem aceder aos portais que a sociedade espelho acaba de abrir.
De notar a demonstração que a geometria fez do efeito espelho e da imagem refletida ela própria o apelo à distanciamento do próprio objeto!


Desenho 3Um menino , a ideia de nosso rosto espelhado ao longo dos nossos dias (Inês, 3 anos)

terça-feira, 17 de março de 2020



annaC’uarentena|day 2
17 março 2020

Num “ensaio de lucidez” fica o desespero de controlo, a ansiedade de declaração de normas de emergência que regulem as rotinas de um coletivo a que o Estado garantiu o direito de bem estar e qualidade social encaminhada na natureza social humana e que agora de forma antagónica se vê emanada no delírio do distanciamento, na escapatória ideal de garantir a sobrevivência individual e consequentemente a dos avós, do vizinho, da cidade, do país e do mundo. Na responsabilidade do conhecido desconhecido e negação num mundo silenciado, inclinam-se as janelas e cantam-se músicas de força e serenatas de esperança nos lugares privilegiados das casas de cada um: as varandas. Nestas, consciencializam-se figuras de vizinhança atravessadas por breves planos de parede, baixos gradeamentos que sempre ali se viram mas nunca se ouviam.
A multidão que caracterizava os lugares ancestrais, grandes vencedores da história, agora estão incompletos, de escala incerta sem um elemento que permita evidenciar a proporcionalidade que o desenho inspirou. 
Aparentemente, também os pombos e as gaivotas se mudaram!



Desenho 2_ Uma casa em funcionamento, a ideia de uma chaminé a deitar calor símbolo do amor em família ( António, 5 anos)

segunda-feira, 16 de março de 2020

Desenho 1_ Uma casa com campainha, na ideia de que algo continua lá fora! ( Inês, 3 anos)

annaC’uarentena|day 1
16 março 2020

Somos incitados a isolarmo-nos, a ficar em casa, a não abraçar, a não beijar, a não tocar e a viver um sentimento abstrato.
Obrigados estamos a nos escutar e com ele o silêncio instalado.
Obrigados estamos a olhar, de forma repetida e constante, aquilo que nos constrói.
Da janela a vida acerca-nos, ainda, no processo normal do ciclo da vida, a figueira apresenta hoje mais folhas do que ontem e o cata-vento continua a rodar seu som antes não escutado.
Um abraço é agora sentido na sua ausência espontânea ao toque que humanamente nos aquieta o medo e nos fortalece para a rotina, hoje mostrando-se dispensável naquilo que é a proteção coletiva de uma raça.
Nada será ao acaso, e do acaso a esperança de uma mudança vindoura e até profilática de escutar a respiração da natureza de novo! …e a natureza continua a respirar!


sexta-feira, 13 de março de 2020

annAC'erca de...


Escute-se a água cair lá fora, não, não está a chover! Apesar de inverno, aquela antiga e caducifólia figueira anunciava a chegada da primavera, e o ralo do duche na varanda amenizava o final de tarde quente.
Atente-se, ao rufar de asas que ali havia de pousar. Da sua presença apenas seus olhos escuros e bico amarelo, segurando uma das suas presas, antevia a entrada do velho buraco no Quercus, perto da antiga figueira. Deixe-se na sua quietude e recolha-se no interior de seu ninho também.
De olhos para o teto a expetativa da queda da lua pelo toque das vinte horas soando lá fora. Ao lado, uma parede de acontecimentos e memórias expostos como leves pousares de suas garras negras e leve semicerrar de olhos. Os estalidos da lenha vocalizam com o grito noturno da destemida coruja-do-mato, na proteção do seu ninho e suas crias.
- Sim, as crias estão no ninho!  







quarta-feira, 11 de março de 2020

annAC'erca de...

Na calada da noite, aproxima-se do terraço da casa. Uma vez mais aquela gineta se havia confundindo com um simples gato, como aquele que se pensava ter visto aninhado no silvado no percurso daquele dia. Não, não era um gato, na verdade apenas se concluíra tratar-se de uma gineta pela agilidade do movimento daquela cauda felpuda ritmada de anéis negros sobre as copas do zambujal (ou olival, dir-se-ia sem distinção entre a oliveira e o zambujeiro!).
Era Outono, e a chuva miúda que caía evidenciava as pequenas marcas de quatro dedos no solo (escondendo o quinto dedo de suas patas) despertando uma perseguição às pegadas ali encontradas juntamente com algumas framboesas silvestres que havia deixado para trás no seu trilho. Agora, restava esperar pela noite cair-pode ser que a gineta se aproxime de novo na casa!


  


domingo, 1 de março de 2020


annAC'erca de ...




-Ufa! - entre-se e deixe embalar-se num sono descansado.
O descanso confiava, ali, as imagens colhidas no retorno da visita à fórnea. Na descida, vislumbra-se aquele socalco e com ele o escutar do curso da água trazida na corrente da queda natural desta depressão. Ao lado um campo aberto pleno de vegetação rasteira pintalgado por margaridas e dentes-de-leão nas clareiras dos zambujeiros quase que deixando escapar a presença dela. Agachada, de orelhas longas e baixas, a lebre camuflada seria descoberta pela vivacidade do amarelo em sua boca, uma flor em vias servir de alimento. Da aproximação a ela, a fuga em “sprint”, revelava o desenvolvimento das suas longas pernas essências para uma fuga rápida. Nada havia a temer, apenas curiosidade na beleza da sua pelagem, amarelo-acastanhado fofo ao toque sem lhe tocar! Era verão, e a curta duração das noites havia permitido este registo diurno.
Desperte-se deste sono, e sem fugacidade procure o assento agora com outra cena de fundo: o outro lado do vale, do castelejo e da fórnea!
Mais tarde, mais tarde suba-se na imersão de um merecido banho.