annaC’uarentena|day 16
31 março 2020
A história de hoje avança com os testemunhos
da tristeza da solidão, do alarme noticiado, também nos Lares de Idosos,
originalmente recriando a casa daqueles que não poderiam estar sozinhos, mas no
final assistiam ao início do verdadeiro estar só (ainda que acompanhado!)
apesar da réstia esperança de retornar aquele abraço interrompido.
Relembro, os finais dos dias de
um casal, próximo de meu grupo de conhecidos, que sempre havia vivido juntos
até mesmo ao dia em que essa memória havia sido apagada a Maria. Ainda assim, António
da Mariquinhas, seu marido, seu amigo, amante e sua maior parte que o casamento
faria crescer, continuou vivendo junto a Maria, sob sonhos contados nos breves
momentos de lucidez,
-dizia-lhe a ela!, pudessem de
novo sonhar juntos e esquecer a solidão das visitas, à vez segundo um
calendário bem concertado e planeado a cada fim-de-semana, de seus filhos,
netos e agora até um bisneto. Na verdade, Maria e António vivem as semanas do
mesmo modo, juntos e cada um para os dois, porque as semanas são feitas de
momentos após momentos apenas sentidos por eles próprios, que os construíram
sem qualquer interesse num composto enredo contado perante as visitas a cada
final de semana!
Até que o derradeiro momento
chega, a partida de Maria, não deixando adivinhar o momento que se seguia.
António restou sem sequer Maria o reconhecer, então. Dois dias haviam passado, mesmo
antes que o final da semana chegasse e também António se despedia da sua
solidão. Partiu, sem qualquer sintoma de enfermidade, sem qualquer ato de desespero
o invadisse.
Somente a solidão, a solidão o fez partir!
Desenho 16_ A irmã Inês a chorar, por
Sofia com 7 anos. A ideia do choro como manifestação de tristeza, infelicidade
e solidão reconhecida por aqueles que nos sentimos próximos e com aqueles que
mais sofrem por nos ver sofrer. Aqueles, que agora nos veem à distância de um
qualquer eco ou app accionada, contudo evidenciando a mesma solidão.