domingo, 26 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 41
26 abril 2020

_Quarent’Ana, ainda!_ Sim, ainda!

Da ideia de oferendas e a associação  da representação de objetos e cenas ansiosas por uma realidade futura desejada, quer numa presa sucedendo uma boa caçada, ou no vigor do cavalo potenciando a vitória de uma batalha ou ainda, por uma manifestação de um presente basto em harmonia com a aclamada felicidade nas representações quotidianas de uma família feliz ao redor de uma mesa ou em verdes jardins nos cenários de brincadeiras de numerosas crianças na companhia de seus animais de companhia, hoje registo um presente ou o presente?!
Por esta altura, em outra história onde Du Arte, um espadarte em sofrimento, protagoniza cenas e pensamentos de imensa confusão ditados por o Agora Presente exigindo que seus pensamentos apenas se ocupem com o presente. Levado a imaginar um qualquer pote rachado de modo a ativar a sua capacidade de imaginação, desta vez, para coisas boas nas novas atribuições que aquele pote rachado poderá ocupar. Senão imagine-se, a capacidade que as fendas das fissuras ao deixar fluir entre elas ,uma luz extraordinária que o presente permite visualizar, mas e ainda em simultâneo a opção de se abrigar na sombra das suas paredes côncavas, agora não tão firmes e nem tão impermeáveis como ainda era recordado. Os pensamentos esses não acalmarão na rapidez de que um pensamento sucede outro e outro e outro…Contudo, conseguirá fechar ou abrir a porta antecipando a rapidez do presente futuro, ou das coisas presentes ainda do passado, ou sim, agora focado na entrada num qualquer compartimento pleno de instantes tranquilamente instalados nos “Agoras” que o seu pensamento presenteia? Não sei se conseguirá.
Ali, naquele instante o presente é o seu maior presente como se aquele fosse objeto de uma qualquer dádiva superior para poder entender o passado ainda presente!


Desenho 41_ O Presente por Sofia com 6 anos. A ideia do presente como oferenda num desejo ansioso ou o presente vivido na rapidez de antecipação presente de futuro ou da superação e aprendizagem das coisas passadas no passado ainda presente. Tão somente o presente, esse seria o maior presente!



quinta-feira, 16 de abril de 2020



annaC’uarentena|day 31
16 abril 2020

Uma gata Camila que poderia muito bem ter-se chamado Zorbas.  Zorbas o gato grande e gordo, um gato de palavra, que assentiu cumprir a promessa feita a Kengah. Kengah, a gaivota apanhada pela maré negra, que assegurou a sua descendência deixando um ovo perante o qual Zorbas assentiu não só não o comer como ainda tomar conta da sua cria, inclusivamente a promessa de a ensinar a voar. Um gato versus uma gaivotinha, no máximo de simbolismo que Luís Sepúlveda deixa no texto fabulístico, mas com a força de uma parábola. Em História de uma gaivota e o gato que a ensinou a voar, a mensagem de esperança assente nos princípios essenciais da convivência humana: a amizade, o espírito de grupo, o respeito pela diferença e a honra do e um compromisso assumido, princípios fundamentais para o cumprimento de tamanha missão!
 Ei-la a harmonia universal assim em modo de fábula ou parábola. Obrigada Lucho.

Desenho 31_ A gata Camila por Sofia com 6 anos. A ideia de harmonia entre as espécies no simbolismo da História de uma Gaivota e do gato que a ensinou a voar de Luís Sepúlveda, que hoje partiu!


domingo, 12 de abril de 2020



annaC’uarentena|day 27
11 abril 2020

Duas metades da maçã, como as duas faces de uma moeda, a que se vê (cara) e a que fica por baixo "corona" (coroa)!
Da maçã, a ideia de René Magritte e “o “filho do Homem. O homem do chapéu de coco, colar e laço vermelho de rosto encoberto por uma maçã simetricamente ajustada pela posição das quatro folhas deixando a descoberto uma nesga de um dos seus olhos, abrindo a discussão entre o visível que está oculto e o visível que nos espreita e nos está ver. A discussão acerca deste desejo que o Homem tem em ver tudo o que está escondido, muitas vezes atrás do visível.  Aqui, a frustração do espetador é sobre a impossibilidade de ver o rosto que afinal não pode ser mostrado, pois a maçã encontra-se no plano da frente. O espetador tem de imaginar aquele rosto, e o da mulher em “A grande guerra nas fachadas” com a flor também na frente ou ainda o Homem em “O rosto do invisível”.
À primeira vista muito simples esta composição surrealista, não se tratasse de um autorretrato e com ele a consciência de quem se autoidentifica. Na verdade, poderia ser de qualquer um de nós, representativo de todas as dificuldades inerentes ao “problema de consciência “com que cada um se identifica. O maior desconforto tem a ver, ainda, com o uso da maçã. A maçã está associada às referências deliberadas sobre a tentação de Adão no Jardim do Éden e o início da culpa, da responsabilização e de uma consciência de tal e consequentemente a queda da humanidade.
Não deixando de ser curioso, que a vergonha descoberta num rosto escondido do Homem, o mesmo aparece formalmente vestido, “overdressed” para o cenário em que se apresenta, é porque no final existe sempre algo mais invisível em cada um de nós.


Desenho 27_ Duas metades da maçã, assinatura por Inês com 3 anos orientada pela tia avó. A ideia das duas metades da maçã como as duas faces de uma “corona”, a que se vê (cara) e a que fica por baixo (coroa|corona)! Também, a ideia do visível e do que está escondido, e logo René Magritte e “o “filho do Homem. O homem do chapéu de coco, colar e laço vermelho de rosto encoberto por uma maçã, não se deixando mostrar a qualquer espetador, exigindo que este imagine o seu rosto. Aqui, um rosto encoberto pela dificuldade de lidar com o seu problema de consciência, fazendo uso da maçã em referência à tentação de Adão no Jardim do Éden e o início da culpa, da responsabilização e de uma consciência de tal e consequentemente a queda da humanidade. 

quinta-feira, 9 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 25
9 abril 2020

Uma rodela no universo, à qual fazemos nós parte?
Associando as rodelas como frações de um todo, às frações habitáveis neste modo de vida vertical e bidimensional, onde o estado de isolamento já se fazia notar, tornando-o, até então, num símbolo de status social.  “Privado” era o acesso à cobertura ajardinada de seu prédio por um qualquer elevador, permitindo também de modo exclusivo e ainda privado o acesso a um qualquer piso ou fração flutuante sobre as ruas de uma cidade. Nas aldeias ou vilas, o acesso privado por uma cancela ou portão ao interior de um logradouro particular na esperança de se distanciar dos perigos que, enfim, fomos cultivando.
O estado de isolamento, de facto há muito já existia. Há muito que, neste estado de isolamento, nos fomos transformando em observadores ou voyeurs em vez de comunidade. Senão, e curiosamente veja-se, o modo em como eram vividas as varandas de uma cidade; por um lado, encerrando-a numa “marquise” e, portanto, deixando de existir, por o seu uso ser feito de modo muito discreto sem ser notado pelo vizinho, que por acaso nem o seu género conseguia identificar, ou  por outro  lado tornando-a num “lugar dos fundos” invadido por pequenos monos cujo o utilitarismo se veio demonstrar como pouco essencial não havendo lugar no interior da casa, para tal.
Acredite-se, contudo, no poder que a arquitetura tem em moldar comportamentos, e desta notar-se--ão os vizinhos e as varandas, essas, deverão permitir um relacionamento, mesmo que à distância, em comunidade. Atente-se neste momento vivido, aos concertos espontâneos e arranjos musicais escutados destes camarotes em nossas casas.

Desenho 25-Nas rodelas de um Universo, assinatura por Inês com 3 anos orientada pela Tia Avó.
Da ideia de uma assinatura das frações ou secções de um Todo e a sua analogia com a vida vertical e bidimensional onde o estado de isolamento já existia, tornando-o até um símbolo de “status “ social acabando por nos tornar a todos voyeurs ou observadores em vez de comunidade. Para tal a analogia de uma varanda em modo marquise e, portanto, deixando de o ser, ou no lugar dos fundos da casa como depósito de modos que se vieram demonstrar não essenciais para a vida da casa. Porém, a ideia de uma arquitetura modeladora de territórios e, portanto, de comportamentos. Para validação do momento uma série de registos, manchas e estampas realizadas com pigmentos naturais, das partes seccionadas de uma laranja, desta vontade de entender as partes de um Todo. 


quarta-feira, 8 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 24
8 abril 2020

O medo numa casca de laranja!
Da textura à acidez, inconfundível o tom forte de sua cor que deu o nome, cuja casca retirada deixa inundar réstias nas unhas que a cravaram nos aromas sentidos ao longe.
Do medo, O grito, famosa obra de Edward Munch, da primeira metade do século que passou, iniciando-se assim um estilo expressionista. Com esta obra, a abordagem à solidão, melancolia e ansiedade convertida em medo  e em angústia do ser que grita. Porém, não deixa de ser ao mesmo tempo também ele libertador na própria reação que o grito revela no som que se faz ouvir, na apreensão que a expressão do rosto provoca na paragem dos vultos ao fundo.
Também a força que nossos rostos fazem para descascar a sua casca, por entre salpicos de azedo e deslumbres aromáticos associados à figura de seus gomos, acentuam o receio de degustar algo sem a doçura própria de quem se delicia na frescura de um líquido em forma de sumo.
A assinatura segue com registos em forma de estampas e carimbos da textura de uma pele ou casca q a envolve; a laranja protegida, quer no solo ou ainda em sua árvore. E no interior de casca continuará o enigmático entendimento e sustento que a Humanidade irá lembrar.





Desenho 24_ O medo numa casca de laranja, assinatura por Inês com 3 anos orientada pela Tia Avó.

Da ideia de uma assinatura marcada na impressão das texturas irregulares de uma casca de laranja, em analogia à expressão do rosto e da falta de exatidão de seus olhos nas órbitas oculares da obra de Munch, O Grito, apelando ao medo e à angústia de solidão.  Da necessidade de algo que nos proteja, que nos envolva, como uma laranja protegida, quer no solo ou ainda em sua árvore, no interior de casca continuando num enigmático entendimento e sustento que a Humanidade irá lembrar. Hoje, impressões da casca de uma laranja.


terça-feira, 7 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 23
7 abril 2020

A queda do figo. O primeiro que caiu da árvore sem sequer ser seu tempo ainda, este ano. Será com certeza um dos muitos que se adivinham pelo porte da figueira!
O mel dos anjos e com este a ideia do satírico romance de Camilo Castelo Branco: A queda de um anjo. No momento de mudança também hoje assistido não só em Portugal, mas em todo o universo, como Calisto aliás introduzia este romance mostrando no novo panorama político numa preocupação do discurso liberal, quando também aí o assunto em si e o mais importante seria a busca de melhorias para a população em oposição às condições autoritárias até então vivida. Mas, a realidade havia conduzido à sua queda numa procura incessante envolta em luxúria e em prazeres momentâneos na esperança de com esta ter encontrado a felicidade.
Tal como o figo e Calisto muitos serão os que mais à frente tentarão com certeza a sua queda!
Na validação da queda deste, as assinaturas seguem com registos em forma de estampas e carimbos do interior deste, realizadas com pigmentos naturais, continuando num entendimento e sustento que a Humanidade irá lembrar.





Desenho 23- A queda do Figo, assinatura por Inês com 3 anos orientada pela Tia Avó.
Da ideia de uma assinatura marcando a era de queda dos soberanos e modestos subalternos dos momentos históricos em desafios relatados ou em vitórias triunfais apregoadas, como a natural queda de um figo na sazonalidade do mesmo. Hoje, fora de tempo caiu, avistado apenas no interior de casa. Da ideia de assinatura necessária para validação este momento vivido, uma série de registos, manchas e estampas realizadas com pigmentos naturais, como forma de entendimento na causa da queda fora de tempo. Hoje, impressões das metades de um figo, desta vontade de entender as partes de um todo. 







segunda-feira, 6 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 22
6 abril 2020

Este ano, ao dia 5 de abril (ontem, portanto!) chegou o dia festivo, o Domingo de Ramos, que sem ser feriado encontrou todos dentro de casa. Nas casas as marcas vinham da colocação de ramos de oliveira ou palmeira nas portas, seguindo a simbologia, de tradição judaica, representativa de triunfo da união entre todos, os mesmos que se encontram na luta pela salvação do Universo. São sinais de mestria da fé no início de uma semana que procura a redenção do nosso egoísmo, da nossa falta de amor. Que no início desta semana Santa assumamos o compromisso da humildade e de paz para com todo o Universo. Valorizemos com amor e gratidão a “assinatura” que a natureza nos oferece.
Da ideia de assinatura o início de uma série de registos, manchas e estampas realizadas com elementos vegetais com pigmentos naturais, como forma de entendimento e sustento que a Humanidade irá lembrar.
Hoje, impressões do ramo deste ano pascoal cá da casa da Chã!

 




Desenho 22- Os ramos, assinatura por Inês com 3 anos orientada pela Tia Avó.
Da ideia de expressão, valorização e contacto com o que a Natureza nos oferece. A “assinatura” do amor e gratidão pelo o que nos sustenta a cada dia das nossas vidas. Da ideia de assinatura necessária para validação do momento vivido, surge o início de uma série de registos, manchas e estampas realizadas com elementos vegetais com pigmentos naturais, como forma de entendimento e sustento que a Humanidade irá lembrar. Hoje, impressões do ramo deste ano pascoal cá da casa da Chã!



domingo, 5 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 21
5 abril 2020

A partilha com um coletivo, agora feita com as partes à distância, em tempos loucos de sociabilizar em distanciamento.
Fazer aquela receita de pão com massa mãe seguindo o tutorial no Youtube, cobrindo todas as bancadas e mão enfarinhadas entre uma aula de Yoga online, marcada entre o tempo da amassadura e levedura até à entrada no forno, altura da cozedura.
De seguida, uma sessão Skype com a psicoterapeuta (agora ainda mais penso nela!) numa sessão guiada de meditação numa aceitação e fortalecimento emocional do estado de sítio em que também eu me encontro.
Aguardando o cair da noite, altura em que me preparo para me ligar ao grupo de Chats entre amigos Facebokianos na expetativa em que o tema de conversa decorra como se de ontem se tratasse não fossem as quatro semanas decorridas desde a última vez que nos vimos e por tal o tema volta a ser o da conjuntura: o microrganismo que nos encerrou a cada um em suas casas eclodindo numa infinidade de Hastags. Portanto, ainda sobrará tempo para um FaceTime com o filho em Itália e uma mensagem no Whatsapp felicitando a prima que acaba de ser mãe pela primeira vez. E a resposta não tardou, permitindo inclusive o contacto com a pequena bebé da fotografia recebida e ora ampliada para melhor identificar cada detalhe da beleza de acabar de nascer.
Amanhã, terei de arranjar tempo para melhor preparar os trabalhos em Zoom Class com base nos tutoriais pesquisados e atualizar o ficheiro no Slack de chegada de todos os AFS’er junto das suas famílias de origem (acabo de ser notificada!).
Por agora, juntar-me-ei ao desafio de jogar com os meus sobrinhos, Toon Blast que em rede e à distância cedemos vidas, obtemos chaves , moedas e entramos em duelos com artifícios ganhos e partilhados na abertura de mais um baú, e nele a possibilidade de aceder a mais uma vida extra. Ah, e o mais hilariante até podemos colecionar Coronas!
Afinal a família continua em rede e os amigos em linha On!


Desenho 21_. As mãos, por Inês com 3 anos e Leonor com 6 anos.

A ideia colaborativa de criar um registo. Uma marca que regista cada individuo num coletivo, sem se tocarem evidenciando este tempo de loucos o de sociabilizar em distanciamento. Entre aulas guiadas por Skype, partilhas em chats de grupos, conversas em Facetime ou Whatsapp, atualização de domínios e tarefas no Slack ou nas reuniões com ingresso marcado numa sala Zoom ou ainda o jogo em rede com a família e amigos. Agora, adivinhe-se este tempo longe de um fibra que nos distanciasse também desta “rede” e/ou que nos deixasse a todos OFFLine?

sábado, 4 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 20
4 abril 2020

- Ao contrário, indicou ela, acerca da posição a ser observado seu registo desenhado!
Pensando no que aquilo poderia querer dizer, e este tempo, também ele virado ao avesso, parecendo ter aumentado para um momento “extra” ordinário, rasgando a ficção de Emily Mandel e The Glass Hotel, como que em delírio da analogia da mulher que faz um balanço da sua existência por qualquer medida racional considerava estar a viver uma vida extra.
Nesta vida extra, experimentando a facilidade em entrar em vidas alternativas e a fragilidade da nossa presença em qualquer uma delas. Estando ciente da existência de uma fronteira não sei, contudo de que lado estou….
Apenas o nome fica numa réstia do que era!


Desenho 20_ O mundo ao contrário, por Sofia com 6 anos. A ideia de experimentar a possibilidade de uma vida extra, aquela em que de forma extraordinária estamos a conseguir entrar com a mesma fragilidade que nos mantivemos na vida anterior. Assuma-se esta possibilidade e experimente-se o renascimento há tanto anunciado.

quinta-feira, 2 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 18
2 abril 2020

O perigo de um beijo!
Vivido atualmente, a hesitação e proibição do beijo aguça a temática do amor retratado com a tranquilidade, fantasia e intimidade definida na cena d’O Beijo de Gustave Klimt. De inspiração nos mosaicos bizantinos essa é uma composição de pequenos elementos que formam uma estampa plena de sensualidade sob um tapete de flores, como se estas fossem os únicos elementos que nos remetem ao mundo real. A cada flor um simbolismo, o do interrupto ciclo de vida, ditado nos pés, da mulher beijada, pelas conhecidas ervas de parnaso.
Passado um século da data desta obra, a mesma é replicada pelo artista; Tamman Azzam, na parede de um edifício Sírio que um bombardeio fez ruir, como forma de protesto contra a guerra apelando á esperança e ao dever de continuar a lutar pelo alcance de um dia poder dar um beijo!



Desenho 18- Um beijinho, por Inês com 3 anos. A ideia das manifestações de carinho, amor e solidariedade com os outros num toque, por segundo, de duas partes de corpos uma boca e uma face convertido num breve som de beijar. Hoje, retratando a falta dele na perspectiva de distanciamento social. Da temática, a belíssima estampa de Gustave Klimt num manifesto ao amor e ao Beijo.

quarta-feira, 1 de abril de 2020


annaC’uarentena|day 17
1 abril 2020

-Nas nuvens ou na Cloud?

Não se percebendo o momento vivido, ou sequer a correspondência evidente da nossa atuação até agora, o que era, não mais poderia ser! Apenas uma das inúmeras possibilidades às quais ninguém poderá descartar como possível.

Aliás, na sua grande maioria as pessoas não excluem a ideia de poder ser de outro modo diferente; uma ave, uma joaninha, meio homem meio peixe, com pernas curtas ou longas as possibilidades são inúmeras. Outros fins diferentes, contudo, nos obrigarão a criar modos de nos movimentarmos, porque em tudo na vida a dinâmica da mutabilidade é real. No bater das asas da ave ou de uma joaninha, no bater da barbatana do Homem-peixe ou no pedalar das pernas curtas ou longas, que sempre adaptaram a distância dos pedais à distância de um pé. Na verdade, quem aprende a andar de bicicleta uma vez, jamais deixará de saber pedalar. E esta força motriz, é aquela que em conjunto não poderá deixar de ser o que era. 
Essa com certeza estará guardada numa qualquer Cloud, para poder ser utilizada, quando tudo passar!


Desenho 17-Todos a pedalar, mas ninguém consegue chegar aos pedais por Zé Miguel com 6 anos.
A ideia de algo simples que todos aprendemos a fazer, andar de bicicleta, que todos associamos ao movimento de pedalar associado à força incutida visando a maior velocidade, aqui a de depressa chegar ao fim desta viagem. Ainda, a possibilidade de voltar a fazê-lo como antes se fazia, porque quem aprende a andar de bicicleta jamais esquece!

terça-feira, 31 de março de 2020


annaC’uarentena|day 16
31 março 2020

A história de hoje avança com os testemunhos da tristeza da solidão, do alarme noticiado, também nos Lares de Idosos, originalmente recriando a casa daqueles que não poderiam estar sozinhos, mas no final assistiam ao início do verdadeiro estar só (ainda que acompanhado!) apesar da réstia esperança de retornar aquele abraço interrompido.
Relembro, os finais dos dias de um casal, próximo de meu grupo de conhecidos, que sempre havia vivido juntos até mesmo ao dia em que essa memória havia sido apagada a Maria. Ainda assim, António da Mariquinhas, seu marido, seu amigo, amante e sua maior parte que o casamento faria crescer, continuou vivendo junto a Maria, sob sonhos contados nos breves momentos de lucidez,
-dizia-lhe a ela!, pudessem de novo sonhar juntos e esquecer a solidão das visitas, à vez segundo um calendário bem concertado e planeado a cada fim-de-semana, de seus filhos, netos e agora até um bisneto. Na verdade, Maria e António vivem as semanas do mesmo modo, juntos e cada um para os dois, porque as semanas são feitas de momentos após momentos apenas sentidos por eles próprios, que os construíram sem qualquer interesse num composto enredo contado perante as visitas a cada final de semana!
Até que o derradeiro momento chega, a partida de Maria, não deixando adivinhar o momento que se seguia. António restou sem sequer Maria o reconhecer, então. Dois dias haviam passado, mesmo antes que o final da semana chegasse e também António se despedia da sua solidão. Partiu, sem qualquer sintoma de enfermidade, sem qualquer ato de desespero o invadisse. 
Somente a solidão, a solidão o fez partir!

Desenho 16_ A irmã Inês a chorar, por Sofia com 7 anos. A ideia do choro como manifestação de tristeza, infelicidade e solidão reconhecida por aqueles que nos sentimos próximos e com aqueles que mais sofrem por nos ver sofrer. Aqueles, que agora nos veem à distância de um qualquer eco ou app accionada, contudo evidenciando a mesma solidão.


segunda-feira, 30 de março de 2020


annaC’uarentena|day 15
30 março 2020

Uma linha simples pintada com pincel pode-nos levar à liberdade e à felicidade.
De Joan Miró, a expressão inata dos traços espiralados, instintivamente a cor atribuída sem valor representativo de qualquer objeto ou realidade, apenas o prazer da liberdade do movimento, o prazer de riscar num registo de criação da sua própria vontade e liberdade. No momento um encontro com a felicidade!
Como propósito das nossas vidas, a felicidade é buscada em todos os registos vitais que uma qualquer sociedade aspira. Não deixa de ser curiosa, porém, a sua falta de referência nos quase 300 artigos emanada Constituição da Républica Portuguesa que principia a nossa sociedade. Ou ainda, muito raramente escutada como objetivo e premissas nos discursos públicos que maximizam numa compensação relativa as expressões de qualidade de vida, dignidade de vida e melhores condições de vida seja lá isso o que for? Afinal qual o sentido da corrida à felicidade?  O que se busca nela?



Desenho 15_ Garatuja I por Caetana com 2 anos. A ideia do alcance de felicidade na expressão inata e num encontro sublime com a liberdade de riscar, sem ordem de cor e real no simples momento de prazer e criação. O pensamento do conceito de felicidade na falta da ordem e da presença do toque e de estar com outros.

domingo, 29 de março de 2020



annaC’uarentena|day 14
29março 2020

Mais uma hora, em casa!
Adiante-se o ponteiro das horas, e com ele o início do horário de Verão!
Lá fora, o rio ainda corre, as flores dão lugar aos frutos e na figueira os primeiros figos adivinham o mel açucarado de seus grânulos na boca. As abelhas saltitam de flor em flor no ciclo natural da vida para a continuidade de gerações e seus zumbidos contracenam com os estalidos da fogueira cá dentro no interior de casa, lugar de onde apenas se vislumbram estes acontecimentos.
Mais uma hora de luz, e um entardecer mais tardio na vontade de espreitar até mais tarde as silhuetas e sombras do pátio traseiro, numa vontade de agarrar o ar ameno de uma hora mais de energia. No recorte da serra, o limite com o céu na esperança de para além, a resposta encontrada e deste interior se poder espreitar. No prolongar do dia, a antecipação de uma consciência acrescida ocultando uma escuridão cada vez mais longínqua. Ainda é tempo de crescer não sendo ao acaso a existência de uma hora mais de luz. 
O tempo,esse não para, e agora ,agora é hora de apreciar o interior de cada um!

Desenho 14_ A serra, o rio e o pomar por Camila com 4 anos. A ideia de tudo à nossa volta existir podendo ser avistado, tocado, cheirado e até escutado. Esta clarividência palpável, ainda que lá fora, abençoada por uma hora que o relógio nos cedeu. Porque o tempo não para!


sábado, 28 de março de 2020




annaC’uarentena|day 13
28março 2020

Isolados em casa ou debaixo de uma copa de árvore, ou até, de uma arcada vencida pelo encerramento das portas das lojas, o vislumbre vai hoje para aqueles que em casa devem permanecer mesmo que sem casa se encontrem.
A exclusão e isolamento social há muito foi sentido ainda que o ruído de fundo fizesse adivinhar o seu colectivo na labuta tecnológica de um paraíso desenvolvido em franca expansão do conforto e comodidades. Estes, assaltados constantemente nos curtos momentos de felicidade imperceptíveis pela ausência de tempo para os notar.
Da hipótese anunciada de transformação, de um planeta azul num planeta cinzento, a ideia de procurar novos lugares de “casa”, aqui, ali fora no espaço intergaláctico, na esperança que o tempo cuide da limpeza deste planeta, aonde todos poderemos retornar.
Relembrando a missão de Wall.E, o pequeno robot deixado no cenário de calamidade, com a missão de limpar e empacotar todo o lixo que havia contaminado o planeta, mas que ainda assim conseguiu uma relação de proximidade com uma barata (para além dele o único ser que não havia sido destruído, ali!) ) e encontrar a beleza num sinal de vida; uma planta. Com este achado, desenvolve uma personalidade muito humana do gosto pelo belo e mais tarde no encontro com EVA, chegada de Axiom, a esperança atingida pelo sentido mais forte que a humanidade pode viver; o amor. O amor, é ao longo de todas as histórias a razão que nos empurra para a felicidade e continuidade da espécie humana.
Das histórias de amor, o toque que o beijo do príncipe Wall.E à princesa EVA faz acontecer a força e a esperança de continuarmos a nossa missão!

Desenho 13_ Wall.E por André com 4 anos. A ideia da missão isolada de cada um de nós na defesa e garantia de um humanidade (apesar de a mesma ter potenciado a sua calamidade), na imagem de um robot, que assume os sentidos e sentimentos da espécie Humana nomeadamente a de poder encontrar algo belo por entre os destroços. Cada missão sairá reforçada com a capacidade da partilha dessa beleza encontrada  



sexta-feira, 27 de março de 2020



annaC’uarentena|day 12
27março 2020

O sonho de ter super poderes, quem nunca o teve? Na crença de os representar, como se uma antecipação bem-aventurada anunciasse o sucesso de uma caçada do Homem pré-histórico, a evocação de poderes sobre humanos vem acompanhando a evolução da História, muito antes das histórias aos quadradinhos e do cinema ter transformado figuras, como o Homem-Aranha, em super-heróis. Aliás, se a curiosidade nos inquietar, constataremos as influências das culturas clássicas na transformação destas figuras da Marvel que protagonizam histórias de super aventura dedicadas a ato de interesse público e, suas proezas ficam marcadas na eliminação dos “vilões “do enredo.

Deste imaginário, recorde-se a pretendida “surhumanité” (super-humanidade) de Nietzche, citada em “Du superman au surhomme” de Umberto Eco, num desígnio ideal de encontrar uma qualquer proeza em prol do bem e da defesa de Todos neste momento de maior aflição que um qualquer “vilão” provocou. 
Apesar da ideia política inerente a este ensaio, conseguir-se-á nesta altura, uma abordagem ao sentimento e consciência do Bem Comum do contexto vivido, aliás de que trata a política senão de tal?!

  Desenho 12- O super-herói, por Jorge com 17 anos. A ideia da evocação de uma qualquer proeza que salve esta “super-humanidade”. E, porque existem super poderes que até agora se escondiam, por debaixo de uma certa forma de máscara, é tempo agora de as revelar!

quinta-feira, 26 de março de 2020



annaC’uarentena|day 11
26março 2020

Duas representações d’O mar, na percepção que quem o observa!
Nestes dois desenhos, a ideia de apreensão distinta do mesmo “objecto”, o mar. Porém, ambos veículos de uma carga de elementos visuais sentidos em ambientes distintos do seu imaginário mas de forma una no seu próprio significado: o Mar. 

Nas diversas maneiras de perceber Todas as coisas, a percepção e representação visual é um comportamento associado ao pensamento visual próprio apenas do Homem.
Tudo no Universo existe para ser visto, ouvido, cheirado, tocado nos sentidos que nos permitem perceber cada experiência imediata de todas as coisas. Mas, esta percepção pode ser enganadora, pois esta é dada por todas as experiências colaterais vividas, não só por quem as percebe e revela (nas suas representações) como por quem as apreende e contempla. Em muitos casos, é o próprio contemplador que se permite a uma multiplicidade de interpretações que poderá revelar também o seu momento vivido no momento da sua contemplação, coberta de individualidade. Acerca desta dualidade e o engano que esta visão pode acarretar, Bruno Munari atribui-lhe um certo toque de ilusionismo cedido pelos truques de óptica deste fenómeno de visão.

De Leonardo da Vinci, o mais importante dos sentidos; a visão, que apesar de carregar uma boa dose de ilusão, a visão é dos sentidos o menos enganador.

                         
Desenho 11_1|O mar, por Sofia com 7 anos. A ideia de perceção de um mar no seu interior como um habitáculo, poucas vezes vivido por cada um de nós. Esta interioridade, é o nosso grande desafio na contemplação deste momento vivido.


Desenho 11_2|O mar, por Íris com 6 anos. A ideia de tudo o que envolve o pensamento visual associado ao mar, uma vivência de momentos de lazer e convívio agora na sua falta, valorizados!


quarta-feira, 25 de março de 2020

annaC’uarentena|day 10
25março 2020

Ainda, acerca de arco de ontem. O arco-íris que aprendeu a falar!
No campo das representações gráficas, a atribuição de sentidos próprios dos seres humanos a objetos inanimados ou seres irracionais (personificação), avança com a intenção de interpretação da apresentação de cada objeto no mundo de todas as coisas. Esta magia, a da representação e de um certo pensamento visual fica então atribuída aqueles que maior habilidade tem para o fazer: o Homem e num modo muito mais genuíno enquanto, ainda criança.

Do pensamento visual a ideia refletida no significado da aparência na ordem de todas as coisas, referida nas teorias do Gestaltismo, na atribuição da psicologia a todas as coisas, e de seguida logo a obra de Rudolf Arnheim e com este, a ideia de uma psicologia visual associada à capacidade característica criadora que a nossa visão revela. Esta configuração serve acima de tudo para nos revelar acerca da natureza das coisas representadas não apenas pela aparência associada, mas nos sentimentos que indicam o momento experienciado por quem o representa.
Ainda, do pensamento visual, a percepção de todas as coisas e consequentemente a apreensão da “forma” das coisas e a consciência de modo precipitado da “vida” de cada uma delas. A imaginação não observa coisas, ela alcança coisas, alcança propósitos nas manifestações de um imaginário experienciado, no desejo de (re)criar ou transformar as coisas que nos rodeiam, nem que seja na tentativa de os tornar igual a nós próprios para assim melhor viver.  
Ver não é viver, viver é perceber!

Desenho 10- O arco-Íris que aprendeu a falar. Da ideia de necessidade de atribuir sentidos e sentimentos a todas as coisas que nos rodeiam para assim conseguir as apreender melhor e assumir uma maior consciência na compreensão de todo o Universo. A representação deste pensamento visual apenas o Homem é capaz.

 

terça-feira, 24 de março de 2020


annaC’uarentena|day 9
24março 2020

No final da tarde de ontem, o sinal para hoje!
 A dinâmica de um arco multicolorido, com vermelho por fora e violeta no interior: o arco da Iris com seu efeito deixado pelo rasto da mensagem divina de Iris ao atravessar os céus e das nuvens, o simbolismo divino, no arco-da-aliança aparecendo como símbolo de aliança entre Deus e todos os seres da Terra num comprometimento feito no momento em que a arca de Noé pousou, logo após o desaparecimento de quase todas as civilizações se terem inundado no episódio de um Dilúvio, de que “Tudo vai ficar bem”.

Na indefinição da delimitação de suas cores, a ideia proposta das sete (cores) de Newton (apesar de só ter avistado cinco e duas delas ficarem por conta da analogia das 7 notas musicais, conta-se!), remetendo para a mnemónica que lembra a sua sequência : Vermelho Lá vai Violeta ( laranja, amarelo, verde, azul e índigo) ou ainda, o estudo dos elementos visuais presentes nos círculos cromáticos por  classes  primárias ou  secundárias, dependendo se isoladas ou adicionadas. O vermelho e amarelo com o laranja no meio resultado da sua adição, o amarelo e azul com o verde, também ele no meio resultado da sua adição azul, e, o índigo e violeta misturando este último com o primeiro; o vermelho, permitem a expressão romântica ,em arte, dos arco-íris nas paisagens de William Turner, ou (da minha preferência!) do arco-íris de Kandinsky em Murnau com arco-íris, sob pinceladas a anunciar uma leve subjectividade de vê-lo, própria de quem é capaz de se abstrai das regras impostas.

E ainda, já no final, a ideia de leveza e mágica que a crença infantil desperta, o desejo de algures no final deste arco se abrir uma porta escapando à desesperança do mundo, contrariando a tristeza associada aos tempos de chuva e ansiando um lugar e/ou um tempo Over the Rainbow como se a Oz tivessem chegado!

 Desenho 9_ O arco-íris, por Pedro com  6 anos. A ideia de simbolismo associada a um desenho gráfico multicolorido e multicultural na esperança e união global de todos os estados, na indefinição das fronteiras como aliás é a delimitação das cores neste arco. O rasto de uma mensagem de esperança, como se Íris acabasse de atravessar nossos céus!




segunda-feira, 23 de março de 2020


annaC’uarentena|day 8
23março 2020

Hoje, um registo de pura vida!
A celebração de todos sinais de doçura e de cor, habitualmente sem valor por se ter instalado na presença comum de
todos.
Celebrando este ciclo de vida, pelas caducifólias que dão origem às flores e folhas e depois aos frutos registe-se a aspiração da salvação de um coletivo que se propõe a não abdicar da sua missão de colheita e de serviço comunitário.
No tom cerimonial deste momento, os rituais de culto e celebração que desde sempre organizaram planos de construções que a arquitetura dos povos reuniu em torno do seu habitáculo, e assim a imagem de Persépolis.
Desenvolvida por diferentes níveis num terraço onde a sua configuração nivelava o solo rochoso assegurada pelo aterro das depressões com enchimento de solo e rochas, Persépolis, dada a pouca conveniência de aí se chegar em virtude das suas condições geomorfológicas (antes ideal para defesa de um nação!), apenas era visitada na Primavera altura de comemoração e chegada de um novo ano!
Assim, ficou assumida, até aos dias de hoje onde as suas ruínas, nas imediações de Xiraz (província de Fars, Irão), continuam a servir de lugar e inspiração para a celebração de feitos e eventos.
Lá, restam ainda de pé: as portas (a conhecida porta inacabada e denominada por porta das nações, na entrada Ocidental, e as colunas de pedra (as cem, milimetricamente implantadas numa retícula de 10x10 sustentando o hipostilo no palácio)!  
Não sendo acaso por tal, a sua referência no registo gráfico da escritora Satrapi que ilustra o seu “crescer” na metáfora de Persépolis por entre as dificuldades de um povo (o seu) que procura manter os seus alicerces ideais e de sua salvação (dela própria, noutro espaço e noutro lugar) na possibilidade abertura de novos acessos ou portais.

Celebremos, então!

Desenho 8_ A árvore, por Martim com 7 anos. A ideia de celebração de todos sinais de doçura e de cor, habitualmente sem valor por se ter instalado na presença comum para todos. Um registo de puro de vida!


domingo, 22 de março de 2020


annaC’uarentena|day 7
22 março 2020

Erguendo-se, próximo às paredes avistam-se vãos de janela e portas de acesso ao exterior dos balcões das varandas, os acessos por escadarias que tentam mobilizar o nosso ânimo ainda que desprovidas de corrimãos antevendo o limiar infinito da nossa passada seguinte sob o conjunto de degraus sem um fim imprevisível.


Deste cenário, as imagens das gravuras de Piranesi criadas completamente no delírio de uma febre: as prisões imaginárias. Estas visões representam prisões fictícias onde figuram enormes túneis subterrâneos, escadarias e máquinas de grandes dimensões e destroços da labuta diária que por ali ficam no registo de uma água-forte, técnica de representação que permitiu acentuar um maior espírito de angústia evidenciada nas sombras e esbatidos. São estruturas labirínticas de dimensões épicas, mas aparentemente sem significado ou vazias de propósito. São atmosferas imaginativas como aquelas que agora vamos construindo.
Com o tempo, se constrói e reconstrói o sentido da “ordem” do espaço , ora casa, essa majestosa edificação, de uma atmosfera dotada de significado figurativo do nosso “porto de abrigo”, da nossa proteção mas também da nossa criação originalmente feita de gerações que os laços familiares foram fazendo nascer e que até há bem pouco víamos desaparecer. A “casa” é agora um sentimento, muito individual, retratado no passado como solução para o presente e sem planos para o futuro.



Desenho 7_ Interpretação da nova casa, por Iris com 6 anos. 
A ideia do novo conceito de casa , de lar não só como um espaço mas sim como um sentimento muito individual.

sábado, 21 de março de 2020




annaC’uarentena|day 6
21 março 2020

O prolongar do inverno na hora das boas vindas à primavera, este ano atrasou um dia e assim se manterá por alguns anos.
O Equinócio da primavera onde a “noite igual” (aequus nox) ao dia, é considerado um período sagrado. O alinhamento do Sol com o Equador representa espiritualmente o equilíbrio e a unicidade da nossa vida. Entre a luz e a sombra a consciência da primeira pelo avistar da  segunda. A passagem do exterior para o interior no sentimento da ausência da segunda na presença da primeira.
Com as horas do sol a avançar, o impulso natural é o de iniciar novos capítulos, uma nova fase que nos encoraje na continuidade e testemunhe a viragem de página.
A natureza mostra-nos pistas que nos vão indicando a sintonia das Coisas. Da sintonia nada de errado em querer criar novos Castelos no ar, mas agora entenda-se o prefácio deste novo capítulo. É tempo de (re)contruir os alicerces que sustentarão esses castelos, é tempo de se seguir a formiga no carreiro que a transporta ao seu abrigo. No canto do macho da cigarra, também as ninfas (jovens cigarras acabadas de sair dos ovos que a morte da sua progenitora anunciou), entram na terra e ficam lá até a época de reprodução. Elas alimentam-se da seiva retirada das raízes das plantas, enquanto aguardam o momento certo para cavarem túneis que as levem de volta à superfície. Até lá o inverno continuará aí.

 Desenho 6_A casa das formigas, por Inês com 3 anos. A ideia de sobrevivência da parábola da formiga e da cigarra, no trabalho árduo de armazenamento e preparação de uma estação difícil que se avizinha.




sexta-feira, 20 de março de 2020


annaC’uarentena|day 5
20 março 2020

Do som da chuva lá fora, hoje a ideia de continuidade da vida que a abelha em comunidade nos ensina e com ela o enredo de Uma abelha na chuva. O desejo de mudança de uma época silenciada ali retratada na ruína de diferentes gerações. Por um lado, a ruína do poder do comando de uma sociedade e por outro a ruína da proximidade que a relação de amor exige. Na verdade, a qualquer momento tudo pode “cair” determinando a ruína de um momento, mas testemunhando ao início de tantos outros. No mesmo espaço em tempos diferentes também a vida de uma abelha pode terminar a qualquer momento levada pela enxurrada da chuva, porém, também elas criaturas sociais, sucedem o papel das anteriores na construção da sua colmeia como se de um elogio à comunidade se tratasse.
Porque o universo continua, e o barco esse continuará a sua viagem.





Desenho _ Um barco no oceano por Íris com 6 anos. A ideia de uma longa viagem onde cada um de nós embarcou e que continuará entre tempestades e sol brilhando num destino ainda mais iluminado 

quinta-feira, 19 de março de 2020


annaC’uarentena|day 4
19 março 2020

Do efeito borboleta (de Evan Treborn em The butterfly Effect), a ideia dos frequentes apagões sofridos em momentos de stress na tentativa de abandonar as memórias que inconscientemente guardava de uma infância em sua vida. Na tentativa de as esquecer a necessidade, porém, de uma regressão às origens, aos princípios fundamentais e essenciais da memória que temos enquanto seres deste universo. Nesta hipótese que o nosso cérebro permite, procura-se constantemente as razões e fundamentos de tudo o que nos envolve, de todas as coisas, numa tentativa desenfreada de alterar o rumo das mesmas. Todos os acontecimentos se assumem, assim, como consequências de todas elas dando origem a tantas outras, muitas ainda imprevisíveis. (no bendito futuro desconhecido!).
Seguindo esta interpretação o efeito de borboleta é em ciência, uma expressão utilizada na teoria do caos para fazer referência a uma das características mais marcantes nos sistemas caóticos: as sensibilidades das condições iniciais para previsão dos acontecimentos finais, a ideia culturalmente passada de que: o bater de asas de uma simples borboleta na India poderá provocar uma tempestade de neve em Nova Iorque!
Acreditando nesta teoria, o curso natural dos sistemas naturais em nosso redor nada tem a ver com o acaso e o desfecho do que a seguir virá assumirá desfechos completamente díspares e imprevisíveis.   
Portanto desenganem-se os mais céticos, pois tudo que aí se encontra de nós dependerá, ainda num futuro muito incerto, com a determinação do resultado muito diferente daquele que até agora imperava nas equações propostas.
Aí estamos nós, envoltos de um sentimento de lar, onde o espaço da casa não importa apenas a presença em família, nos mais complexos sentidos que esta veio a tomar, interessa!
Apenas o amor por todas estas conexões e ligações irá fazer vencer e no final tudo irá ficar bem. Nunca esquecendo que as asas da borboleta continuarão a bater e o amanhã de cada um de nós depende.


 Desenho 4_ Um coração ou duas asas de borboleta a baterem ao sol, a ideia de esperança que a força do amor ganhará no afastamento, físico de muitos dos nossos familiares e amigos mas no sentimento de cuidar e proteger todos os que amamos.(Leonor,5 anos)




quarta-feira, 18 de março de 2020



annaC’uarentena|day 3
18 março 2020

Do presente alternativo, aqui estamos nós refletidos num híbrido entre a ficção e a realidade em completo desconforto em relação ao mundo moderno.
Neste espelho, negro (Black Mirror), refletimo-nos nos contextos até agora quotidianos; escravos do consumo, espetadores comodistas de concertos a qualquer instante disponíveis em modo “ON”, dependentes apáticos de comentários e stylings virtuais preparados para conceitos de reunião sucessivas em débito desenfreado de quem domina o poder, ansiosos pela chegada do ponteiro ditar o momento de encontro com a família no imaginário e ideal sentimento de conforto harmonioso esgotado pela falta de paciência que o ideal do amanhã assola.
A parábola do sentido de estar no mundo, ei-lo, o medo de que nossos olhos se tornarão ecrãs, ora dispensáveis, e visualizados por outros quaisquer. E, no momento de reportar as nossas memórias, criando o nosso próprio enredo sob dúvidas descobertas e visíveis, por cada um dos outros socialmente aceites, dispensando qualquer chavão, ponto final ou travessão.
Da hipótese do bloqueio de comentários, a viabilidade de remover a presença física e ao vivo das pessoas a cada minuto que a pressão e fúria ativam o nosso cérebro. A ausência, essa fica presente e notada num negativo à côr do universo que a silhueta permite recortar num vislumbre de apenas branco aparecer.
A corrida ao real prazer, ao emocionalmente satisfeito e ao felizes para sempre, agora ao alcance de um gadget capaz de fazer a cópia da sua personalidade e comandar cada minuto compatilizando-a com nossos níveis de agrado e desejo em modo “Enter”.
Perfeito ,perfeito,é quando fazemos chegar um “avatar” de alguém familiar falecido que a saudade fez desejar, à distância deste apresentar um histórico facebokiano , claro está não se incluindo a geração Boomer que ainda são do tempo onde apenas se contavam histórias de sucessivas crises, de sobrevivência e alguns feitos que reforçavam o orgulho e esperança perante a arrogância de quem os escutava sem aceder aos portais que a sociedade espelho acaba de abrir.
De notar a demonstração que a geometria fez do efeito espelho e da imagem refletida ela própria o apelo à distanciamento do próprio objeto!


Desenho 3Um menino , a ideia de nosso rosto espelhado ao longo dos nossos dias (Inês, 3 anos)

terça-feira, 17 de março de 2020



annaC’uarentena|day 2
17 março 2020

Num “ensaio de lucidez” fica o desespero de controlo, a ansiedade de declaração de normas de emergência que regulem as rotinas de um coletivo a que o Estado garantiu o direito de bem estar e qualidade social encaminhada na natureza social humana e que agora de forma antagónica se vê emanada no delírio do distanciamento, na escapatória ideal de garantir a sobrevivência individual e consequentemente a dos avós, do vizinho, da cidade, do país e do mundo. Na responsabilidade do conhecido desconhecido e negação num mundo silenciado, inclinam-se as janelas e cantam-se músicas de força e serenatas de esperança nos lugares privilegiados das casas de cada um: as varandas. Nestas, consciencializam-se figuras de vizinhança atravessadas por breves planos de parede, baixos gradeamentos que sempre ali se viram mas nunca se ouviam.
A multidão que caracterizava os lugares ancestrais, grandes vencedores da história, agora estão incompletos, de escala incerta sem um elemento que permita evidenciar a proporcionalidade que o desenho inspirou. 
Aparentemente, também os pombos e as gaivotas se mudaram!



Desenho 2_ Uma casa em funcionamento, a ideia de uma chaminé a deitar calor símbolo do amor em família ( António, 5 anos)